Os novos desafios da “Liberté” francesa.
Não existe possibilidade de se pensar na causa ambiental se nós não estamos bem com as pessoas que convivem conosco no mesmo meio ambiente. Pensando nessa questão o Desbikelando convidou a a Bia que é natural de Dois Córregos - SP e que hoje mora com Arthur Bagatini em Moyon, Basse-Normandie, França desde 2014. Trabalha na La Gourmande Normande para pagar sua faculdade, a Universidade de Caen. A Bia será uma das colaboradoras do blog Desbikelando o Brasil de norte a sul.
Cansados de ler sobre os tão falados atentados do dia 13/11? Eu também. Porém é preciso entender que os acontecimentos alteraram a realidade da população francesa e trouxeram novos debates que estão longe de se acabarem. Defender ou apontar os erros dos envolvidos não é o compromisso deste -isso renderia pelo menos um longo texto em que poucos conseguiriam se manter interessados até o fim- mas mostrar fatores que trazem o questionamento dos franceses como um todo.
Bom, venhamos e convenhamos que praticamente todo o mundo sabe das premissas maiores do Estado da França, “Liberté, Égalité, Fraternité”, que está assegurado aos franceses em um dos elementos da Constituição que é a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Em seu Artigo de número 1, diz-se: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade ".
Por que toda essa informação ou o que tudo isso tem a ver com os atentados? Tudo. A população desse país leva a sério os três elementos apresentados, isso reflete no debate: até onde minha liberdade interfere em minha segurança?. Todos os noticiários e políticos estão nesse grande debate. São discussões extremamente sérias, já que a interpretação do ocorrido não é apenas pelas pessoas perdidas nesse dia mas também por terem sido feridos os princípios desses cidadãos. Um tiro certeiro na liberdade de todos!
A partir das declarações do presidente sobre uma fiscalização mais severa, tanto aos nacionais quanto aos estrangeiros, para que fossem descobertos os organizadores dos ataques, houve a diminuição de tal liberdade e inicio da grande argumentação com seus prós e contras para ambos os lados. O presidente que atualmente governa esse país é da linha centro-esquerda, o que o faz bastante voltado aos princípios franceses e o que torna a decisão da quebra da liberdade mais dificil. Outra discussão trazida, e temida por uma boa parte da população, é que se o presidente não tomar as “devidas providências” (que ninguém sabe extamente quais são) há forte cogitação da eleição de um próximo governante conservador da extrema direita.
Apesar do estrago causado em dois dos pontos mais fortes e de grande orgulho para os franceses, a liberdade e Paris; apesar do “Je suis Paris” e seu impacto de solidariedade fervorosa vinda de outros países, o que não se ve é a generalização patética da religião islâmica por parte da população e dos políticos franceses.
O pânico parisiense é grande a ponto de qualquer barulho amendrontar qualquer um, a fiscalização está mais rigorosa nas fronteiras do país e hoje a França caminha para medidas de segurança mais rígidas, o que não é utilizado desde a Segunda Guerra Mundial.
Ana Beatriz Sangaletti, a Bia é de Dois Corrégos-SP, trabalha e estuda na França e é colunista do Blog "Desbikelando"
